quinta-feira, 10 de abril de 2008

PALÁCIO DOS ARCOS

Vista parcial da fachadada Nascente do Palácio dos Arcos


"PONTOS DE VISTA


CONTROVERSA UTILIZAÇÃO - III


Sem entrarmos em especulações teóricas sobre o que é uma casa-museu, basta pensar em alguns bons exemplos: o dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais, e o da Casa dos Patudos, em Alpiarça. Ambos evocam uma pessoa/família e dão testemunho dos seus gostos e modos de estar e fruir a vida, em consonância com a sua situação social, económica e cultural. Testificam uma realidade doméstica específica e não comum. A importância e o valor do seu recheio material são, por isso, contingentes e, em termos quase gerais, de acordo com os padrões aferidores de cada tempo, são aleatórios. Pode existir, e com papel cultural relevante, a casa-museu de um oleiro, moleiro ou pescador, e não está em causa a riqueza fiduciária e a qualidade do recheio, como a de um magnate, aristocrata, coleccionador ou artista.
Uma casa-museu não é um “pequeno museu municipal”, como lemos ter dito o vereador do Turismo. Em termos conceptuais, a criação de um museu municipal, que Oeiras não possui e que já não está na “moda”, obedece tanto a princípios de base como a objectivos completamente diferentes.
Não conhecemos o inventário do espólio legado pelo conde de Arrochela ao Município de Oeiras. De maior relevo, lembramo-nos de ter visto, com muito apreço, uma valiosa árvore da vida, em marfim, o retrato de D. Teresa Eufrásia de Meneses, do século XVIII, instituidora do morgado dos Arcos, a aguarela de Enrico Casanova, que foi o mestre do rei D. Carlos, representando o palácio dos Arcos, e o interessante e esclarecedor desenho, inacabado, de uma regata na baía de Paço de Arcos nos anos 70 do século XIX , e pouco mais. Agora, lemos que também lá se encontram (ou encontravam) trabalhos pictóricos de Vieira da Silva, Almada Negreiros e Mário Cesariny. E que mais com “peso”, para além de alguns valiosos móveis que sabemos a câmara ter mandado já restaurar?
Sem ter em linha de conta o valor histórico, simbólico e arquitectónico do edifício, que é de monta inquestionavelmente, parece pertinente reflectir se os bens móveis legados justificarão a criação de uma casa-museu. Pode ser que se considere insuficiente, em qualidade e quantidade, o acervo de suporte. Mas, se assim é, dever-se-ia ter ponderado atempadamente e tentar-se-ia, então, negociar uma outra forma ou mesmo recusar a condição que acabou por ser imposta.
Na nossa óptica, a criação da Casa-Museu Conde de Arrochela é inevitável e representará uma mais-valia para Paço de Arcos e, por consequência, para o concelho. Mas podem existir compromissos conciliadores, sem cedência ou subalternização dos interesses culturais concelhios aos económicos ou de grupo.

Jorge Miranda
(jorge.o.miranda@gmail.com]"


Com os nossos agradecimentos ao autor e ao Jornal da Costa do Sol

2 comentários:

Unknown disse...

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Um texto excelente e deveras esclarecedor do Jorge Miranda, como é habitual.

A questão envolve muitos interesses e não é pacífica.
Muita tinta vai ainda correr sobre este assunto.

Pela minha parte, como já aqui referi, considero que a vontade testamentária deve ser respeitada. Por muito que isso possa custar aos bolsos de alguém...

Deseja-se que os Munícipes não cruzem os braços e digam de sua justiça. Todos os Munícipes de Oeiras e não só os de Paço de Arcos.
A questão respeita ao Concelho de Oeiras e ao seu Património Histórico e Cultural.

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Isabel Magalhães disse...

Gosto da forma serena como o Jorge Miranda colocou os pontos nos iii...

Estou-lhe grata pela partilha que tem feito com o Oeiras Local.

[]

I.