segunda-feira, 11 de setembro de 2006

visita guiada A Quinta de Cima do Palácio do Marquês de Pombal


Para situar o leitor deste texto, a chamada QUINTA DE CIMA, de que aqui se fala, é actualmente propriedade da Estação Agronómica Nacional. É basicamente constituída pelas duas vertentes que ladeiam a Ribeira da Lage e é parcialmente visível à direita para quem se desloque de Oeiras, p.ex. do Pelourinho, passando por baixo do Aqueduto em direcção às Palmeiras, Qta. do Marquês ou a Carcavelos, pela Av. da República. Todo aquele vale a perder de vista para Norte é a Quinta de Cima.

Refiro para já algumas das estruturas arquitectónicas e monumentais mais importantes que nela podem ser encontradas: AQUEDUTO DO ARNEIRO, CASA DA PESCA, CASCATA DA TAVEIRA ou DO GIGANTE, RUA DOS LOUREIROS, AQUEDUTO DE CACILHAS, CASA DOS BICHOS DA SEDA, MINA DA FONTE DO OURO, CASCATA DA FONTE DO OURO, POMBAL e ABEGOARIA.

Como seria de esperar, dada a extensão da Quinta de Cima, a visita guiada de sábado último, organizada pela Associação Cultural de Oeiras ESPAÇO e MEMÓRIA, prometia uma valente caminhada num longo percurso de 'sobe e desce'. A ela se habilitaram cerca de 50 pessoas que, guiadas pelo Arq. Rodrigo Dias e pelo Prof. José Meco, durante cerca de 4 horas percorreram os pontos-chave da propriedade. O que talvez ninguém esperava era que, dado o lamentável abandono a que está sujeita a zona e as estruturas e monumentos, o percurso fosse um verdadeiro corta-mato, por vezes penoso, por veredas íngremes enxameadas de silvas difíceis de transpor. Salvaram-nos da canícula as sombras proporcionadas pelo imenso arvoredo e matagais.

Contudo, não ficámos decepcionados. Muito pelo contrário. As dificuldades tornaram a visita ainda mais interessante pois esta revelou-se uma aventura e assemelhou-se a um verdadeiro caminho de descoberta no qual as belezas e elementos de interesse e fascínio surgiam como que por magia, de súbito, por trás do denso arvoredo ou duma curva da picada.

O Arq. Rodrigo Dias deu um completíssimo esclarecimento sobre a estrutura da quinta, a qual era essencialmente agrícola, mas contendo em simutâneo áreas de lazer, e explicou rigorosamente a articulação da mesma com a quinta, sobretudo de lazer, junto ao Palácio do Marquês, conhecida por Quinta de Baixo (os conhecidos jardins de que já se falou aqui). A ligação entre as duas quintas era feita através de vários portões, sobressaindo dois deles pela imponência e importância, através dos quais se cruzava a Estrada Real (actual R. do Aqueduto) e se acedia à Cascata da Taveira através duma comprida alameda ladeada de loureiros que lhe deram a nomenclatura de Rua dos Loureiros.

A Cascata da Taveira, junto da qual está a Casa da Pesca, e que tem um imenso tanque à sua frente e é ladeada de paredes com magníficos painéis de azulejo figurado, e muros, também eles revestidos com belos azulejos, e equipados com bancos conversadeiros, foi brilhantemente explicada pelo Prof. José Meco, dada a sua especialidade ser a azulejaria.

É de referir o estado deplorável em que se encontram muitos dos painéis de azulejo assim como outros elementos arquitectónicos. Vimos, p.ex., uma balaustrada à qual falta um grande pedaço e uma outra já sem o remate superior e em risco de cair (testámo-la e abanava perigosamente). Vimos painéis de azulejo gravemente danificados. Em vários deles faltam azulejos.
A Cascata da Taveira é sem sombra de dúvida o espaço cénico mais impressionante da Quinta de Cima. Classificada como Monumento Nacional, merecia certamente um tratamento mais digno e responsável.

Notámos a presença de elementos metálicos (género argolas, pregos, escápulas) cravados ou nas paredes de azulejo ou nas cantarias do tanque. Veio-nos à memória que de quando em vez aquele local é usado para nele serem feitos espectáculos de dança e música. Ocorreu-nos que uma coisa esteja relacionada com a outra. Sabemos que os trabalhadores que montam estruturas para espectáculos não têm qualquer sensibilidade patrimonial. Afinal, limitam-se a obedecer a ordens. Perguntamos: Será que quando os operários estão a montar as estruturas para os espectáculos, são supervisionados por um responsável, especialista em História de Arte e Património, que os impeça de danificar e/ou destruir os monumentos? Acreditamos que a resposta só pode ser negativa. E se for positiva, então o referido 'responsável' só pode ser um incompetente...

Para além da Cascata da Taveira muitos dos outros elementos, edificações e espaços, se encontram ao abandono. Podemos dizer que praticamente todos. Ocultos pela vegetação que cresce de forma selvagem e desorganizada, estão sujeitos à fúria dos elementos que lentamente os vão destruindo.
Para não falar de actos que se percebe deverem-se a vandalismo. Que bom seria se toda aquela quinta fosse reabilitada, dentro dum projecto coerente e integrado, que a relacionasse com a Quinta de Baixo, como estava no passado pombalino, formando um conjunto monumental, com o restauro e dignificação dos elementos de lazer que nela existem e que constituem um potencial turístico indescritível. Sonhando um pouco (utopia?), aquela Quinta de Cima e a sua ligação ao Palácio e à Quinta de Baixo, todo aquele conjunto, permitiriam fazer ali uma espécie de Versailles oeirense. Claro que isto exigiria uma sensibilidade e uma vontade cultural e política que não se encontra em Oeiras e arredores...

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imagem: © cv comunicação visual 2006

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